Participei, recentemente, de congresso que tratava do assunto. Atualmente, a região genital vem ganhando destaque na área da estética, também conhecida como Estética Íntima. É sabido que ainda não existe uma definição anatômica como padrão da normalidade para a área genital. Entretanto, através da maior exposição do corpo feminino na mídia, as mulheres podem perceber diferenças naturais existentes na anatomia genital externa e fazer comparações, identificando um modelo estético mais agradável.1
À nível mundial, já existem estudos que correlacionam a imagem genital com a vida sexual da população feminina. E segundo à Organização Mundial de Saúde, alterações na saúde sexual podem interferir diretamente na qualidade de vida do indivíduo.
Um estudo realizado nos Estados Unidos associou a imagem genital com a vida sexual e a qualidade de vida. O trabalho apontou que as mulheres que apresentavam uma autoimagem genital negativa, foram as que mais reportaram quadros depressivos e de angústia em relação à vida sexual. Outro estudo realizado, apontou que as mulheres que possuíam uma autoimagem genital positiva, apresentavam uma melhor saúde sexual, principalmente quando relacionada ao desejo e a satisfação.4
O processo de envelhecimento costuma ser gradativo, irreversível, complexo, e ocorre em todos os níveis celulares. Entre os órgãos e tecidos que mais denunciam as alterações causadas pela longevidade, a pele é o grande destaque. E essa alteração inclui, também, a região genital.
Fatores fisiológicos e/ou genéticos associados à fatores exógenos como obesidade, tabagismo, alcoolismo, hábitos alimentares inadequados, processos mecânicos como as depilações a cera, gestações, uso de determinadas medicações e vestimentas inadequadas podem culminar em alterações estéticas na região genital.
E é aí que entra a Fisioterapia Dermatofuncionale como subespecialidade, a Estética Intima.
Essa área da Fisioterapia Dermatofuncional dispõe de recursos terapêuticos que, associados ou não a técnicas médicas e cirúrgicas, visam melhorar a aparência da região genital.
Quanto os procedimentos médicos, os mais realizados são os preenchimentos com ácido hialurônico, transplante de pêlos (geralmente indicado após os 60 anos), ninfoplastias (correção cirúrgica dos pequenos lábios), lipoaspiração do “Monte de Vênus” e correção de cicatrizes deixadas em alguns partos.
Já o tratamento fisioterapêutico visa, principalmente, melhorar a aparência da região genital no que tange a redução da flacidez tissular dos grandes lábios, clareamento de virilhas e região perianal, além de reduzir gordura localizada, normalmente encontrada na região supra púbica. Também atuamos na redução da lassidão do canal vaginal e o no tratamento pós-operatório dessa região. Diversas são as técnicas que podem ser utilizadas pelo fisioterapeuta:
Radiofrequência: O uso desse recurso para o tratamento da flacidez corporal e facial já é estabelecido e cada vez mais difundido.7 Por isso pode-se utilizar os mesmos princípios terapêuticos para tratar a flacidez dos grandes lábiosvulvares. O aumento da temperatura e a manutenção desta em torno dos 40ºC durante o período de aplicação, diminuem a extensibilidade e aumenta a densidade do colágeno, conseguindo assim melhorar a flacidez da pele, promovendo a diminuição da elasticidade em tecidos ricos em colágeno.8 Este efeito é denominado lifting pela radiofrequência.
Carboxiterapia: Técnica que utiliza as propriedades terapêuticas do dióxido de Carbono (CO2), pode ser utilizada tanto para redução da gordura localizada na região supra púbica, quanto para reduzir a flacidez de pele. A ação lipolítica dessa técnica ocorre, principalmente, em função da hiperdistensão do tecido subcutâneo, onde há estímulo dos baroreceptores – corpúsculos de Golgi (sensível as baixas pressões) e de Pacini (altas pressões). Após esse estímulo, ocorre a liberação de substâncias “algógenas”, como bradicinina, catecolamina, histamina e serotonina. Estas substâncias atuam em receptores beta-adrenérgicos, localizados na membrana dos adipócitos, ativando a adenilciclase, promovendo assim aumento do AMPc tissular responsável pelas ações hidrolíticas sobre os triglicerídeos adipocitários. Ocorre, então, a lipólise dos ácidos graxos, sendo liberados triglicérides e ácidos graxos para o meio extracelular.9Além disso, o CO2 injetado com fluxo adequado é capaz de provocar uma lise mecânica na membrana do adipócito ocasionando sua morte celular e consequentemente, reduzindo a gordura localizada na área alvo.
Quanto a ação da carboxiterapia na flacidez, acredita-se que a infusão do CO2 provoque um enfisema subcutâneo através do descolamento da pele deste local, gerando com afastamento dos planos que passam a ser ocupados por esse gás. Este descolamento se dá isento de lesões vasculares ou nervosas, entretanto, provoca trauma suficiente para desencadear um processo de cicatrização. Didaticamente, esse processo pode ser descrito em 3 fases: inflamatória, proliferativa e de remodelamento. E como em todo processo de cicatrização, tem-se como resultado um aumento da síntese de colágeno pelos fibroblastos, auxiliando, por exemplo, na melhora do tônus cutâneo.10Além da ação do gás, o trauma da perfuração da agulha, também contribui para a ocorrência do processo inflamatório, podendo potencializar os resultados em algumas áreas.
Ultracavitação:Utilizado no tratamento da gordura localizada, o equipamento é caracterizado como um tipo diferenciado de ultrassom, onde pode apresentar faixas de frequências baixas (28 KHz até 80 KHz) ou altas (1 a 3 MHz),11 e ainda possuir um padrão distinto de emissão de ondas sonoras por meio de trandutores “focalizados” ou “planos”. É utilizado paratrabalhar de forma seletiva objetivando provocar o fenômeno cavitacional somente no tecido adiposo subcutâneo tratado, deixando intactos os tecidos adjacentes.12, 13A ação das ondas ultrassônicas de baixa frequência (efeito atérmico) produz a formação de microbolhas de gás/vapor próximo à membrana dos adipócitos que também responderão à mesma frequência do ultrassom e por conta da pressão negativas e positivas, as microbolhas irão se romper, lesionando assim, a membrana do adipócito, e promovendo o “derramamento” de gordura. Já os equipamentos de alta frequência (focalizados ou não) irão atuar com aumento da temperatura no tecido adiposo causando um trauma térmico na membrana adipocitária. 14, 15
Na Estética Íntima a ultracavitação pode ser usada para tratar gordura no “Monte de Vênus” e até em áreas próximas a genitália, como adutores.
Peeling:A hiperpigmentação da região íntima é um processo natural associado a fatores como gravidez, nutrição, obesidade, tabagismo e até à constituição genética.Mesmo não sendo regiões expostas ao sol, elas costumam escurecer ao longo do tempo, uma vez que a pele desse local tem uma espessura mais fina do que o resto do corpo, o que a torna naturalmente sensível. Além disso, o atrito do movimento nessa região contribui para o aumentoda pigmentação da área.
Entre as possibilidades de tratamento, as substâncias usadas mais conhecidas são: hidroquinona,e os ácidos kójico, fítico e fólico.
Devemos lembrar que nem sempre o clareamento dessa região ocorre rapidamente. Por se tratar de partes do corpo delicadas, a paciente deve seguir o protocolo orientado pelo profissional.
Fotoepilação (Lasere Luz e Intensa Pulsada): Atualmente, inúmeros são os parelhos utilizados para epilação da região genital. A utilização do laser ou a luz pulsada objetiva a destruição da unidade do folículo piloso.
A habilidade de remover o pêlo sem danificar a pele adjacente se deve ao princípio da fototermólise seletiva que preconiza que uma determinada onda, com certa duração de pulso e determinada fluência provoque um dano térmico localizado somente no alvo que contém a molécula que absorverá a energia, ou seja, o cromóforo. No caso da epilação, o alvo é a melanina da haste do pêlo e da matriz. Lasers ou Luz Intensa Pulsada, com comprimento de onda entre 600 e 1.100nm, são bem absorvidos pela melanina e são adequados para fazer epilação.16
Diversos sistemas de luz intensa pulsada e de laser já se mostraram efetivos para epilação. Entre os Lasers podemos citar: Ruby (695nm), Alexandrite (755nm), Diodo (800nm) e Nd:YAG (1064nm) São necessárias múltiplas sessões (de três a oito) para a obtenção de resultados satisfatórios, com taxas médias de redução de pelos variando de 70 a 90%.16
Lembrando que esses recursos também podem ser utilizados no clareamento da região genital.16
Cinesioterapia e Eletroestimulação: Esses recursos terapêuticos são utilizados para aumentar o tônus da musculatura perineal, melhorando a sua funcionalidade e contribuindo até para o aumento do prazer durante o ato sexual.
Como acontece para qualquer outra musculatura, a eletroestimulação não age isoladamente no fortalecimento dos músculos do assoalho pélvico. Para que este fortalecimento ocorra é indispensável que, durante o tratamento com os recursos eletroterapêuticos, sejam realizados os exercícios de fortalecimento com carga, como os Exercícios de Kegel, com cones vaginais, com biofeedback ou com a resistência das mãos do fisioterapeuta.17
Enfim, a estética íntima traz às mulheres (e também aos homens!)uma oportunidade de resgatar a “jovialidade” da região, melhorando seu aspecto estético, resgatando a autoestima e proporcionando uma melhor qualidade de vida, inclusive da vida sexual.